A ganância nossa de cada dia
A pregação e o ensino generalizado do “evangelho da prosperidade” em todo o mundo levantam sérias preocupações. Definimos o evangelho da prosperidade como o ensino de que os crentes têm direito às bênçãos da saúde e da riqueza e que podem obter essas bênçãos por meio de confissões positivas de fé e da “semeadura”, através de doações financeiras e materiais.
O
ensino da prosperidade é um fenômeno que atravessa muitas denominações em todos
os continentes. Nós ratificamos a graça e o poder milagroso de Deus e congratulamo-nos
com o crescimento das igrejas e dos ministérios que levam pessoas a exercer a
fé expectante no Deus vivo e no seu poder sobrenatural.
Nós
cremos no poder do Espírito Santo. No entanto, negamos que o poder milagroso de
Deus possa ser tratado como uma técnica automática ou à disposição de humanos,
ou ainda, manipulada por palavras, ações, dons, objetos ou rituais humanos.
Negamos
também que a pobreza, a doença ou a morte física sejam sempre sinais da
maldição de Deus, ou evidência de falta de fé, ou o resultado de maldição
humana, já que a Bíblia rejeita tais explicações simplistas.
Nós
admitimos que seja bom exaltar o poder e a vitória de Deus. Mas cremos que os
ensinamentos de muitos que promovem energicamente o evangelho da prosperidade
distorcem seriamente a Bíblia; que suas práticas e seu estilo de vida
geralmente são antiéticos e não semelhantes a Cristo; que eles costumam
substituir o evangelismo genuíno pela busca de milagres, e substituem o chamado
ao arrependimento pelo chamado para a contribuição financeira destinada à
organização do pastor.
Lamentamos
que o impacto de seu ensino em muitas Igrejas seja pastoralmente prejudicial e
espiritualmente doentio. É com alegria e firmeza que ratificamos toda
iniciativa em nome de Cristo que busque trazer cura ao doente ou livramento
duradouro da pobreza e do sofrimento. O evangelho da prosperidade não oferece
nenhuma solução duradoura para a pobreza e pode desviar as pessoas da
verdadeira mensagem e do verdadeiro caminho para a salvação eterna. Por essas
razões, usando de sensatez, ele pode ser descrito como um evangelho falso.
Por
isso rejeitamos o excesso de ensino sobre prosperidade por ser incompatível com
o cristianismo bíblico equilibrado. Com
insistência encorajamos os líderes da igreja e de missões presentes em
contextos onde o evangelho da prosperidade seja popular, a compará-lo com
atenção e cuidado ao ensino e exemplo de Jesus Cristo. Particularmente, todos
nós precisamos interpretar e ensinar, segundo seu contexto e harmonia, os
textos bíblicos comumente usados para sustentar o evangelho da prosperidade.
Onde
houver o ensino da prosperidade no contexto de pobreza, devemos nos opor a ele,
com compaixão autêntica e ação que traga justiça e transformação duradoura para
o pobre. Acima de tudo, devemos substituir o interesse próprio e a ganância
pelo ensinamento bíblico a respeito do sacrifício próprio e da doação generosa,
como as marcas do verdadeiro discipulado de Cristo. Nós
ratificamos o apelo histórico de Lausanne por estilos de vida mais simples.
Nota:
trecho retirado do documento O Compromisso da Cidade do Cabo (2010).
A ganância nossa de cada dia
Reviewed by Ezequiel Ramalho Gomes
on
agosto 01, 2016
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